Quanto a esse relato aqui deixado, há a dizer que não é o drama individual de cada um que vai a referendo - é uma lei. A lei é sempre abstracta. As pessoas, sempre concretas. Daí alguns paradoxos da justiça.
Mas não é essa dimensão existencial que vai a referendo. É uma outra coisa muito simples na sua abstracção. A noção de que uma violência suprema sobre o ser mais frágil na situação que já é uma realidade de facto - ser esse que é absolutamente inocente - não deve ser a solução para outras e variadas violências que infelizmente acontecerem à mulher que sente a tentação de abortar.
As pessoas são livres. As pessoas são livre de não abortar e enfrentarem as consequências dos seus actos. Matar para não assumir a responsabilidade é de uma tristeza infinita. Ninguém se salva aí. Tristeza infinita.
Pois são completamente livres. Votar sim não obriga ninguém a abortar. Votar sim é escolher a liberdade de uma maternidade consciente. E o drama de cada um pode espelhar perfeitamente um problema geral.
dúvida: o que se faz às mulheres que, mesmo sabendo que é crime, entendem que não têm outra opção senão abortar? ignoramos essas?
a única maneira de nos aproximarmos dessas mulheres para podermos fazer de facto alguma coisa por elas e defender a todo o custo a gravidez, e maternidade se possivel, é tornando a ivg legal.
eu gostava imenso de votar não, mas não estou convencida. sei o que quero para mim e o que desejo para todos.
numa sociedade ideal os métodos contraceptivos eram infalíveis; não havia violência doméstica; o planeamento familiar, e a educação sexual, nas escolas e em casa, eram rigorosos e acessiveis a todos; haviam apoios económicos e de estruturas por parte do estado e outras instituições capazes e suficientes e assim por aí fora; e a perspectiva de uma nova vida era sempre benvinda com graça e esperança e quando, mesmo assim, não houvesse disponibilidade económica para mais um, a familia lutava com unhas e dentes para dar o melhor; e a rapariga fosse muito nova, a familia lutava com unhas e dentes para dar o melhor; e quando a senhora tinha medo que o miudo nascesse torto de tanta pancada que leva.. ah isto não existia...
não faz sentido existir uma lei que não seja para cumprir. não queremos a criminalização, muda-se a lei!
entendo perfeitamente essa dúvida 'como podes ser contra o aborto e votar sim?' faz-me comichão a contradição. mas eu só posso ser contra o aborto real, só posso lutar contra o aborto se tiver cada caso à minha frente e lutar com unhas e dentes para que cada mulher tenha todas as condiçoes para dizer 'afinal não'. até lá sou contra o aborto ilegal e clandestino que nos tapa os olhos com a peneira para as outras violencias todas e para a realidade que temos de facto.
Ninguém é a favor do aborto clandestino, e alguns (muitos? poucos?) são contra qualquer qualquer tipo de aborto voluntário, sem causas já contempladas na actual legislação.
Ocorre, então, esta infelicidade de nos estarem a fazer uma pergunta errada, a qual divide pessoas com os mesmos interesses. Também eu prefiro que todas as mulheres possam ir a um centro de saúde e tenham acesso a consultas com profissionais antes de confirmarem a decisão de abortar - já para não falar na urgência que há em desviar as mulher que abortam de locais sem condições, como é óbvio.
Mas é, num primeiro momento e num certo sentido, no plano da assistência psicológica que os efeitos do SIM poderão ser de alcance vasto e muito importante. Contudo, eu irei votar NÃO.
Voto NÃO porque, mais uma vez, não creio que devamos tentar corrigir um mal com outro mal. Admitir o aborto voluntário e legítimo é uma aberração para a minha humanidade. O que me parece correcto seria o investimento estatal numa eficaz rede de apoio às mulheres grávidas, onde todas as mulheres se pudessem dirigir para expor o seu e obter conselho, até mesmo aopios à gravidez (financeiros, sociais, legais). Se, depois desse encontro, a mulher continuasse decidida a abortar, os técnicos de saúde dariam um parecer. Bastaria, então, que a mulher estivesse na posse das suas faculdades mentais para poder abortar por sua opção.
Complicado? Complicado é ter de viver numa sociedade que se fecha em egoísmos, medos, ganâncias miseráveis. É por isso que desde os homens às famílias, passando pelos amigos, das mulheres que arriscam a vida em abortos clandestinos lavam as mãos e assobiam para o lado.
9 Comments:
deixo-te este relato:
http://piolhices.blogspot.com/2007/01/sim.html
Eu também não.
Quanto a esse relato aqui deixado, há a dizer que não é o drama individual de cada um que vai a referendo - é uma lei. A lei é sempre abstracta. As pessoas, sempre concretas. Daí alguns paradoxos da justiça.
Mas não é essa dimensão existencial que vai a referendo. É uma outra coisa muito simples na sua abstracção. A noção de que uma violência suprema sobre o ser mais frágil na situação que já é uma realidade de facto - ser esse que é absolutamente inocente - não deve ser a solução para outras e variadas violências que infelizmente acontecerem à mulher que sente a tentação de abortar.
As pessoas são livres. As pessoas são livre de não abortar e enfrentarem as consequências dos seus actos. Matar para não assumir a responsabilidade é de uma tristeza infinita. Ninguém se salva aí. Tristeza infinita.
Pois são completamente livres. Votar sim não obriga ninguém a abortar. Votar sim é escolher a liberdade de uma maternidade consciente.
E o drama de cada um pode espelhar perfeitamente um problema geral.
dúvida: o que se faz às mulheres que, mesmo sabendo que é crime, entendem que não têm outra opção senão abortar? ignoramos essas?
a única maneira de nos aproximarmos dessas mulheres para podermos fazer de facto alguma coisa por elas e defender a todo o custo a gravidez, e maternidade se possivel, é tornando a ivg legal.
eu gostava imenso de votar não, mas não estou convencida. sei o que quero para mim e o que desejo para todos.
numa sociedade ideal os métodos contraceptivos eram infalíveis; não havia violência doméstica; o planeamento familiar, e a educação sexual, nas escolas e em casa, eram rigorosos e acessiveis a todos; haviam apoios económicos e de estruturas por parte do estado e outras instituições capazes e suficientes e assim por aí fora; e a perspectiva de uma nova vida era sempre benvinda com graça e esperança e quando, mesmo assim, não houvesse disponibilidade económica para mais um, a familia lutava com unhas e dentes para dar o melhor; e a rapariga fosse muito nova, a familia lutava com unhas e dentes para dar o melhor; e quando a senhora tinha medo que o miudo nascesse torto de tanta pancada que leva.. ah isto não existia...
não faz sentido existir uma lei que não seja para cumprir. não queremos a criminalização, muda-se a lei!
entendo perfeitamente essa dúvida 'como podes ser contra o aborto e votar sim?' faz-me comichão a contradição. mas eu só posso ser contra o aborto real, só posso lutar contra o aborto se tiver cada caso à minha frente e lutar com unhas e dentes para que cada mulher tenha todas as condiçoes para dizer 'afinal não'. até lá sou contra o aborto ilegal e clandestino que nos tapa os olhos com a peneira para as outras violencias todas e para a realidade que temos de facto.
eu gostava mesmo era de votar não...
Ninguém é a favor do aborto clandestino, e alguns (muitos? poucos?) são contra qualquer qualquer tipo de aborto voluntário, sem causas já contempladas na actual legislação.
Ocorre, então, esta infelicidade de nos estarem a fazer uma pergunta errada, a qual divide pessoas com os mesmos interesses. Também eu prefiro que todas as mulheres possam ir a um centro de saúde e tenham acesso a consultas com profissionais antes de confirmarem a decisão de abortar - já para não falar na urgência que há em desviar as mulher que abortam de locais sem condições, como é óbvio.
Mas é, num primeiro momento e num certo sentido, no plano da assistência psicológica que os efeitos do SIM poderão ser de alcance vasto e muito importante. Contudo, eu irei votar NÃO.
Voto NÃO porque, mais uma vez, não creio que devamos tentar corrigir um mal com outro mal. Admitir o aborto voluntário e legítimo é uma aberração para a minha humanidade. O que me parece correcto seria o investimento estatal numa eficaz rede de apoio às mulheres grávidas, onde todas as mulheres se pudessem dirigir para expor o seu e obter conselho, até mesmo aopios à gravidez (financeiros, sociais, legais). Se, depois desse encontro, a mulher continuasse decidida a abortar, os técnicos de saúde dariam um parecer. Bastaria, então, que a mulher estivesse na posse das suas faculdades mentais para poder abortar por sua opção.
Complicado? Complicado é ter de viver numa sociedade que se fecha em egoísmos, medos, ganâncias miseráveis. É por isso que desde os homens às famílias, passando pelos amigos, das mulheres que arriscam a vida em abortos clandestinos lavam as mãos e assobiam para o lado.
Somos todos culpados. O ser que nasce é que não.
Naturalmente, partilho mto do que o "Anónimo" disse.
Dúvidas tb tenho.
Todos os dias.
Mas há uma ideologia maior, de génese, que olha o significado da vide e de Ser humano, que me faz votar "não".
Respeito a decisão de cada um.
Não é uma decisão fácil, para ninguém.
onde escrevi "da vide"... era suposto ser "da vida".
:)
Partilho da opinião da m infelizmente não é permitido votar em referendos estando a viver noutro pais.
Se aí estivesse votaria sim com vontade de votar não.
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